Indie Game Dev & Maternidade

Gabriela Valentin Thobias
3 min readMay 9, 2021

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Eu e o meu filho querido, o Lucas ❤

Antes da pandemia, é claro, durante diversos encontros de desenvolvedores de jogos, nunca tive a oportunidade de conhecer uma desenvolvedora que fosse mãe. Não sei se foi por falta de sorte ou algo do tipo, mas sempre tive a impressão que não haviam muitas mães nesse mercado. Não é por menos, já que atualmente no Brasil existem menos mulheres desenvolvedoras se formos comparar com a quantidade de homens, então estatisticamente, a quantidade de mães acabam sendo menores ainda.

Durante encontros de desenvolvedoras de jogos, lembro que a maioria dos planos para o futuro das mulheres era atingir um nível profissional alto, ser reconhecida, dar palestras, conseguir um bom emprego, etc. Acho ótimo esses objetivos e estão certíssimas em buscar alcançá-los, mas pessoalmente nunca escutei ninguém falando que queria ser mãe. Um fato curioso é que eu já vi pelo menos três mulheres falando que queriam muito fazer laqueadura, mas ser mãe nem a pau (mais uma vez, direito delas, elas fazem o que quiser com seu próprio corpo).

Fiquei pensando muito nisso esses dias. Lembrei muito de 100% das entrevistas de emprego que já fiz na vida me perguntarem se eu gostaria de ser mãe e eu sempre negando para que não me vissem como alguém antiquado, sem ambição, acomodada, e várias outras ideias que vejo hoje em dia que são distorcidas e preconceituosas. Por mais que eu dissesse isso na época, eu sempre soube que ser mãe era uma experiência que eu queria ter na vida.

Desenvolver jogos independentes no Brasil é um grande desafio, principalmente com relação à estabilidade financeira. É muito diferente de ser contratada por uma empresa no regime CLT e saber sempre o quanto vai cair na sua conta todo o mês. Esse era um dos meus maiores medos antes de ter um filho.

Mas, como ouvi falar uma vez “Se você está com medo, vai com medo mesmo!”. De repente, descobri que estava grávida. Foi uma surpresa maravilhosa. E isso fez mudar tudo o que eu pensava.

Trabalhei até 1 dia antes do meu bebê nascer. Estava no fim do desenvolvimento de Mayara & Annabelle: Idle Battles com meu barrigão de 9 meses ❤.

Engravidar me fez buscar ser uma pessoa melhor. Para o meu filho, com certeza, mas também profissionalmente. Eu percebi que se eu não melhorasse meus processos, aprendesse coisas novas, me organizasse melhor, etc, eu dificilmente conseguiria cuidar dele e trabalhar como eu gostaria. Meu marido me ajudou muito a me estruturar melhor durante todo esse tempo e devo muito a ele por ter sido tão responsável e cuidadoso. Contar com uma rede de apoio, é mesmo fundamental para uma mãe voltar ao trabalho com mais tranquilidade.

As inseguranças ainda existem, mas o jeito de lidar com elas mudou. Hoje em dia, eu entendo que meu filho é como a “cenoura na frente do cavalo” para mim. Ele é o meu maior incentivo para eu ser uma pessoa melhor e isso é muito poderoso. Não vejo mais mães e pais com o olhar preconceituoso que eu já tive um dia com relação ao trabalho. E eu espero muito que passe a ter mais mães nesse mercado, vai ser ótimo dividir experiências com elas e normalizar isso. Não vejo a hora de poder aparecer em um evento com meu filhote depois que a pandemia eventualmente passar.

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Gabriela Valentin Thobias
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Written by Gabriela Valentin Thobias

Co-founder da Skullfish Studios e diretora de arte

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